sábado, 25 de agosto de 2007

Dois lugares, duas memórias, dois amores

Rua Sorocaba, 190, Botafogo, Rio de Janeiro. O casarão, que desde 1983 comporta o Tempo Glauber, instituição pioneira na recuperação e preservação da memória cultural no Brasil, ganhou, no começo da semana, mais um ‘filho’: o Centro de Documentação Lúcia Rocha. Amor de mãe não tem preço. A sala climatizada conta com controle de temperatura e umidade e é à prova de incêndio. O objetivo é proteger os milhares de documentos que o filho de Lúcia – o cinemanovista Glauber Rocha – deixou, entre roteiros originais, peças, projetos, artigos de jornal e rascunhos, que agora estão sendo recuperados pela equipe da instituição. Em 2008, tudo estará pronto, com direito a base de dados completa acessível pela internet – é a homenagem da família aos 70 anos que Glauber não chegou a fazer.

O Tempo Glauber, com a parceria da Cinemateca Brasileira e Petrobrás, está restaurando a filmografia do diretor baiano. Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe já estão no mercado há alguns anos, em edições de dvd muito bem produzidos, recheados de extras, entrevistas com especialistas e outras iguarias para o paladar do apaixonado por cinema. Agora, é a vez do lançamento da cópia remasterizada de A Idade de Terra (1980), última aventura de Glauber no cinema. O dvd duplo foi apresentado durante a inauguração do Centro de Documentação. Os próximos lançamentos da coleção de dvds, previstos para dezembro desse ano, são O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, que lhe rendeu a o prêmio de Melhor Diretor no festival de Cannes, em 1969, e Barravento, primeiro longa-metragem de Glauber.

O Centro de Documentação vai permitir que pesquisadores e entusiastas da obra de Glauber (e do cinema brasileiro, como um todo) se debrucem sobre os papéis amarelados e produzam textos que venham a engrossar o corpo de teses e dissertações sobre o cineasta que, de acordo com um levantamento feito em julho de 2003 pelo pesquisador da Cinemateca Brasileira José Inacio de Melo Souza, é o que mais atrai a atenção da comunidade acadêmica brasileira. Ninguém chega perto de Glauber Rocha. É o mais estudado do cinema nacional, e muito provavelmente, o menos visto.




David Neves, Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade
foto gentilmente roubada do Tempo Glauber



Rua dos Arcos, 24/3º andar, Lapa, Rio de Janeiro. A Filmes do Serro, produtora fundada em 1965, trabalha intensivamente na restauração digital das obras do diretor Joaquim Pedro de Andrade. Amor de filho não tem preço. Alice, Maria e Antônio já encerraram a recuperação de imagens – com a supervisão de fotógrafos que trabalharam nos filmes do cineasta carioca, como Affonso Beato, Mário Carneiro e Pedro de Moraes – e a remasterização do áudio de grande parte de seus filmes: os curtas-metragem O Mestre de Apipucos (1959), O Poeta do Castelo (1959), Couro de Gato (segmento de Cinco vezes favela, de 1962), Cinema Novo (1967), Brasília, Contradições de Uma Cidade Nova (1968), A Linguagem da Persuasão (comercial de 1970), Vereda Tropical (segmento de Contos Eróticos, de 1977) e O Aleijadinho (1978), e os longas Os Inconfidentes (1972), Guerra Conjugal (1975) e Macunaíma (1969) (já disponível em dvd). Já O Homem do Pau Brasil (1982), O Padre e a Moça (1965) e Garrincha, Alegria do Povo (1962), ainda apresentam obstáculos no delicado processo de eliminação de manchas e outras incompatibilidades.

O hábito saudável de preservar a cultura é marca de nascença da família. Joaquim Pedro era filho de Rodrigo Melo Franco de Andrade, fundador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan. A dedicação dos filhos de Joaquim Pedro (todos, por sinal, cineastas) em reviver o pai é também a dedicação em re-experimentar o cinema nacional tão esquecido pelo próprio cinema e povo brasileiros.

A 45ª edição do New York Film Festival - 2007 vai homenagear o cineasta brasileiro com uma mostra paralela em sua programação. Coisa que o cinema daqui ainda não fez. A retrospectiva "Tropical Analysis: The Films of Joaquim Pedro de Andrade" será realizada de 29 de setembro a 9 de outubro, no Walter Reade Theater. As entradas para as sessões custam 11 dólares.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ufa, quase semana depois e finalmente consigo comentar.
Muito curiosos o diretor ser homenageado lá fora e não aqui. Uma pena para seus amantes que não terão a oportunidade de conferir a homenagem que acontecerá a alguns quilômetros do território nacional.

Pelo menos, temos suas memórias concentradas nesses dois templos repletos de relíquias da história do cinema nacional.

E você, caro Bonillo, já marcou na sua agenda quando você irá conhecer?rs

Abraços, caro cara.

Anônimo disse...

Peço licença ao amigo Bonillo para dar os parabéns a nossa adorada e estilosa Momo! =]

*quick&delish*

marina aranha disse...

agradeço os parabéns do meu fã número um, ou único fã.
parabenizo - apesar de ser A SEMANA do meu aniversário, sou generosa - fábio bonillo. muito belo o texto, como sempre, sobre belo tema, também como sempre!

êee, pluto. parabéns! haha

Anônimo disse...

e os grilos reinam:

cri cri cri cri
cri cri cri cri cri cri

zZZ zzz Zzz

Maiara de Lima disse...

O post mais meninão,malandro, perspicaz e que mais me deu orgulho do Sr.Bonillo!
Ele sabe o por quê!
Continue assim!Você terá muito futuro no meio jornalistico e na vida!
Bjks!