quinta-feira, 28 de junho de 2007

Cultura, arte e conteúdo segundo o panteão

Post relâmpago só pra não recuperar fama de vagal!
Comento aqui (por cima, rapidamente e sem revisar) três fatos, de certa forma relacionados, que me incomodaram ultimamente.

1 - Segundo consta na Folha de 3a feira 19/06, a minissérie "A Pedra do Reino", baseada na obra do maravilhoso Ariano Suassuna, que misteriosamente foi aprovada na grade global, desapontou os graúdos por render "apenas" 11 pontos de audiência em média. Que fique claro que cada ponto representa 55 mil domicílios APENAS na cidade de São Paulo.

Ou seja, somente 605 mil RESIDÊNCIAS em UMA cidade do país estariam sintonizadas no programa e isso é motivo de choro para os Marinho. É a lógica da indústria cultural: não vale só ter lucro, este deve subir como um foguete!

Mas o que realmente entristece é a declaração de J.B. de Oliveira, vulgo Boninho, sobre o caso. Responsável por marcos culturais, como o Big Brother Brasil, o diretor dispara, com o crédito que lhe é devido: "A arte deveria ter seu espaço numa TV educativa ou cabo, nunca na TV aberta de massa. Produto de arte precisa de uma boa moldura, de um canal específico, de uma linha direta com quem está disposto a observá-la".
Traduzo com minhas palavras: povão não tem cultura. Povão não quer cultura. Quer Alemão roçando com lemoa. Quer cultura? Paga cabo ou satélite (que se tiver sorte acha alguma coisa).

Tem que pense diferente Mr. Boninho.

2 - Morreu ontem o poeta carioca Bruno Tolentino e, como costuma acontecer com os mortos, voltou a viver na mídia.

Conheço pouco do trabalho do poeta e não estou aqui para julgar sua obra. Mas uma declaração do autor, que sempre teve fama de polêmico, dá coceira na língua. Explicando porque se irritou ao saber que, no colégio, apresentavam ao seu filho mais novo a obra de grandes nomes da música popular, como Caetano Veloso, lado a lado com os grandes escritores de nossa história, soltou a seguinte: "É preciso botar os pingos nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o showbiz. Por mais poético que seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura."

Entretenimento não é cultura? Música não é cultura? Literatura não é entretenimento? Que lástima....


3 - A Pontifícia Universidade Católica de Campinas oferece gratuitamente, contanto que se tenha pago previamente cerca de oito centenas de rais mensais, a possibilidade de imprimir a estrondosa soma de 250 cópias SEMESTRAIS (sim semestrais).

O número equivale a cerca de metade de UM livro didático que foi utilizado em UMA matéria de UMA turma do curso de jornalismo. E para completar a alegria, o conteúdo impresso deve ser autorizado por um grupo (aparentemente formado por pós-graduandos em MSN) que avaliarão se o material é ou não suficientemente relevante para ser impresso. Nossos censores particulares.

O que é "didático" para um graduando em jornalismo? Sejamos sinceros, um jornalista não é especialista em nada. Dentistas são especialistas em dentes, pedreiros em construção, advogados em leis. E jornalistas? Que ninguém diga que jornalistas sabem de JORNAL. Um jornal não é nada por si só. É um amontoado de informações sobre temas diversos que devem ser, no mínimo parcialmente, conhecidos pelo grupo que compõe o jornal. E, para isso, QUALQUER informação é relevante. Deveriamos, em tese, saber o básico sobre tudo ( o que é obviamente impossível) mas a instituição não permite ao menos que tentemos.

Com o que devemos gastar nossa astronômica cota de impressão (vulgo: biblioteca em potencial)? Quem sabe com o currículo Lattes de nosso idolatrado corpo docente. Mas então, o que fariamos com as outras 249 folhas?

Dica de hoje: o livro Dentes Guardados, de Daniel Galera, que pode ser baixado gratuitamente (e com o consentimento do autor) no site http://www.ranchocarne.org/. A obra, com muito esforço e algumas mentiras, tem pelo menos uma cópia feita por mim no laboratório da Puc-Campinas.


* Rodrigo Levy gosta de ouvir, ver, imprimir e ler cultura. Mas tá tão dificil...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Lições de Michael Moore

Sexta-feira estréia nos Estados Unidos o novo documentário de Michael Moore: Sicko. O filme trata do sistema de saúde estadunidense e o diretor visita países como França, Canadá e Cuba para fazer comparações e mostrá-las ao público.

E você não entendeu errado: Michael Moore foi mesmo buscar o exemplo em Cuba, a grande pedra no sapato dos EUA. Por isso, aliás, sua inimizade com o governo Bush voltou à tona – ou à mídia.

E os EUA podem aprender com cuba. Quem diria?

Na terra de Fidel Castro, os medicamentos são quase de graça e estão ao alcance de todos os cubanos, apesar da falta de tantas outras coisas. Enquanto isso, nos Estados Unidos o governo trabalha com um sistema burocrático para o atendimento da população.

Com uma ferramenta poderosa na mão, Michael Moore conseguiu, na última eleição presidencial dos EUA, causar impacto nos eleitores e no mundo todo, apontando pontos negativos e fazendo denúncias ao candidato George Bush.

Quem vê seus filmes, posta sua opinião em um dos dois lados: a manipulação do cineasta em cima dos espectadores, ou seu grande feito em desafiar graves questões nacionais sem solução aparente.

Não cabe aqui discutir a fama de manipulador de Moore e a ‘verdade’ de seus documentários. O que importa é a escolha feita pelo diretor: mostrar problemas reais, mesmo que contados de forma distorcida, que afetam – ou podem afetar – qualquer cidadão estadunidense.

E o que o Brasil pode aprender com isso? A cultura e a sociedade estão intimamente ligadas e, por mais que isso seja de conhecimento público, o uso do cinema, da TV e da literatura no País não parece estar de acordo com as reais necessidades da população, ou, pelo menos, se apresenta aquém de seu potencial.

Para permanecer no contexto:

O cinema no Brasil é caro se relacionado à renda da população. Carteirinhas falsificadas são feitas em busca de um preço mais acessível, que sobe devido a tanta meia-entrada. Um círculo vicioso que deixa o espectador brasileiro cada vez mais distante das telas e, por conseqüência, sem enriquecer sua percepção social do Brasil ou do mundo.

E não há como analisar a sociedade assistindo apenas a "Homem Aranha 3" - que por sinal não recomendo de forma alguma - ou "Piratas do Caribe". É preciso completar o entretenimento através de um cinema como alternativa para a busca do retrato social, contrabalanceando a enxurrada de blockbusters. Pelo menos até aparecer um Michael Moore brasileiro, que una o útil ao agradável.


*Marina Aranha gosta muito de documentários. Mas ela aguarda ansiosamente "A Volta do Todo Poderoso". Não pergunte o motivo!

domingo, 24 de junho de 2007

Dedos exigentes

Você chega em casa puto da vida, se perguntando por que diabos a biblioteca da sua faculdade se parece com o pequeno depósito de livros didáticos que eram as bibliotecas das escolinhas de jardim de infância (Cuca Legal, Elefantinho, Arco-íris, esses nomes lhe são familiares?). Especialização, que nada: procura algo específico na área da comunicação, da literatura ou uma história em quadrinhos? Azar. Dentre as opções escolhidas, levar mais de três livros não pode. A biblioteca municipal? Lá só se guardam bagaços, resquícios do que um dia foram livros. Isso se você não pegar alguma espécie de bactéria já extinta enquanto passa com dedos cuidadosos as páginas prestes a esfarelar daquele Hemingway em que você tanto queria pousar os olhos.

Enquanto isso, dedos congelados na distante Finlândia folheiam os mais de 1200 exemplares de livros de histórias em quadrinhos armazenados na Universidade de Helsinki – mais especificamente na coleção especial reunida pela Sociedade Finlandesa de Quadrinhos.

Como se não bastasse um acervo enorme de literatura, a instituição reserva um espaço considerável para disponibilizar revistas estrangeiras (Bélgica, Suécia, Espanha, Itália, Inglaterra, Polônia e Estados Unidos), quadrinhos independentes finlandeses, livros didáticos que tratam de ilustração e desenho e recortes de jornais sobre quadrinhos da década de 70 – totalizando 80 metros lineares de documentação textual.

A The Finnish Comics Society, fundada em 1971, é uma associação de aproximadamente 800 membros, entre quadrinistas, leitores, colecionadores, entusiastas e pesquisadores de quadrinhos finlandeses. O objetivo do órgão é trazer maior reconhecimento e respeito para as histórias em quadrinhos, popularizando e promovendo uma leitura mais crítica da arte seqüencial. Desde sua criação, a associação estimula a produção de quadrinhos com oferecimento de cursos e entrega de prêmios, principalmente no anual Helsinki Comics Festival, que já teve a participação de monstros como Will Eisner, Enki Bilal, Adrian Tomine, Joe Sacco, Lewis Trondheim e Moebius.

E enquanto isso, no Brasil...




* Fábio Bonillo é brasileiro de nascença e escandinavo por opção, mesmo nunca tendo saído do sudeste tupiniquim

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Eu por mim (e versaouvice)

Observação inicial: Prometo que os próximos posts serão menores e mais interessantes (o que não é difícil).

Correndo o risco de soar egocêntrico e na lanterna absoluta em relação aos outros colaboradores deste blog, começo o último post inaugural falando sobre mim.

Por que diabos alguém deveria ler sobre mim? É a primeira pergunta que vem à cabeça do leitor (e à minha também). A resposta é simples. Não existe razão alguma. Mas como estarei publicando nesta panela de pressão algumas dezenas de linhas todas as quartas feiras (a princípio), imagino que seja interessante saber de onde sai tanta babozeira. E também deixarei (se conseguir) o post linc(ou k)ado à minha assinatura dos posts que seguirão.

Observações: As informações não estão em ordem de importância, novas informações serão deletadas e novas informações acrescentadas na medida em que eu me transformar em outras pessoas. Se você considerar as informações estúpidas demais, pule direto para o item 12 em que estão as informações clássicas (nome, idade, gostos e desgostos).

Comecemos:

1 ) Começo declarando algo que jamais revelei a ninguém! Desconfio que fui: A) Abduzido por alienígenas que fizeram experiências de extrema crueldade comigo ou B)Derrubado do berço e possivelmente atropelado por um trator de terraplenagem (e não terraplAnagem eu burrinho escrevi antes) quando tinha cerca de 5 anos (a mesma idade em ambas as opções). As fotos comprovam que eu era um galã mirim até mais ou menos essa faixa etária. Deveras belo. Para haver me tornado o que sou hoje, algo muito grave aconteceu.

2) Chorei vendo Lilo & Stitch.

3) Tenho obsessões de longo e (em maior número) curto prazo. Listo aqui algumas: sou viciado em livros! Não é um vício saudável como pode parecer e que fariam as mães soltarem lágrimas de alegria ao esbravejar: MEU FILHO VAI SER DOTÔ! Em primeiro lugar porque não vou ser dotô (e minha mãe bem sabe que não). Em segundo lugar porque compro livros em um ritmo sobre-humano e eles estão tomando conta da casa. Ana Karenina já se suicidou em todos os cômodos de minha residência, Humbert Humbert vez por outra tenta me arrumar alguma Lolita, Marseult me deprime um pouco enquanto se protege do sol e Kant me convence das coisas mais malucas ao passear com sua pontualidade marcante por meu criado mudo. Também sou obcecado por idiomas. Já dediquei algumas horas (pelo menos) de minha vida estudando cerca de 10 idiomas e tenho conhecimentos aceitáveis em apenas 3 (contando o português) o que comprova a ineficácia produtiva de minhas obsessões.

4) Sou obcecado também por uma coisa maluca que achei que merecia um tópico a parte. A frase “Tá chovendo aí?”. Todas as linhas que eu escrevo berram implorando por tais palavras. Acredito que isso tenha alguma relação com a abdução, caso você acredite na alternativa A do tópico 1 e para tal possibilidade tenho a seguinte teoria: fui levado para um lugar com chuvas torrenciais (possivelmente ácidas) o que, somado às torturas que foram praticadas em mim, causaram um trauma eterno.

5) Desconfio de qualquer autoridade. Acredito no lema de Thoreau "O melhor governo é aquele que menos governa (...) e quando estivermos preparados para isso, serei a favor de um governo que não governa". E sou a favor da pena de morte apenas para quem é a favor da pena de morte. Que fique claro que isso não quer dizer que acho que quem é a favor da pena de morte deve morrer, mas apenas que se alguém que é a favor da pena de morte cometer um crime que condiz com seus ideais deve morrer feliz, não? (obs: o word me informou que em uma frase deste tópico usei “que” 4 vezes)

6) No quesito liberdade (DEEEEZ... não pude evitar essa piadela de escola de samba – péssima por sinal) sigo Voltaire em sua declaração clássica "posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." Acredito que somos capazes de conviver com idéias diferentes e até contrárias às nossas, mas também acredito que seja nossa obrigação (por “nossa” me refiro a qualquer pessoa que tenha um computador para ler esse post e que saiba ler realmente) lutar pela possibilidade de que todos tenham a capacidade de discordar, para que todos tenham subsídios para formar sua própria opinião. Que autoridade tem a legitimidade de decidir a que tipo de informação podemos ter acesso ou não?

7) Não tenho nenhuma idéia original. Na verdade, não acredito em idéias originais. Portanto se (o que eu duvido) algum dia você encontrar em um post meu alguma frase que considere interessante tome as seguintes medidas: A) Procure no Google. Esta maravilha já me salvou inúmeras vezes da ilusão de haver criado algo original. B) Consulte no (ou seria na?) Wikipedia o tema de que eu estiver tratando no post. C) Se não descobriu que eu copiei a informação de alguma das alternativas anteriores eu provavelmente ouvi algo parecido na rua. Não que eu seja um copião patológico; pelo contrário. Sou obcecado (pra variar) por criar algo original e bastante fracassado nesta empreitada. Mas em compensação acredito que todas as grandes obras consideradas originais (o que deve virar um post mais pra frente) são cópias originais. Portanto, se você não caça com um tacape, é extremamente peludo e pinta suas presas presas em cavernas, eu vou ter sérias dificuldades em acreditar que você realmente CRIOU algo. O que não faz com que existam lindas cópias extremamente diferentes de todas as outras. O verdadeiro artista é aquele que copia com classe, que se copia na cópia deixando uma marca pessoal.

8) Sou muito amargo, rancoroso e tenho um sentimento de culpa eterno. Mas concordo com Albert Camus quando indica que ser humano é também ser culpado e deslocado no absurdo da existência (Camus deve virar post em 1 ou 2 semanas).

9) Meu pensamento não é linear e costumo criar parênteses eternos durante uma linha de raciocínio, o que às vezes me confunde, então imagino o que não cause a terceiros. Portanto, peço desculpas pela minha falta de clareza.

10) Entro em contradição constantemente. Citando Paulo Francis, outro grande plagiário, "Apenas os idiotas não se contradizem" (aviso que esta frase, em especial, tem tudo para ser um plágio descarado já que Francis tinha a mania de citar frases de autores consagrados dando a entender que eram suas).

11) Sou vegetariano “radical” (no sentido de: relativo à raiz, firme) não no sentido de cortar a língua de quem come carne. (vegetarianismo com certeza vai virar post, mas acalme-se caro degustador de picanha, não sou vegetariano chato, quase todos os meus amigos são “carnívoros”, inclusive os outros colaboradores do blog, que comem carne com prazer).

12) Agora a apresentação clássica: Meu nome é Rodrigo Cesar Levy [what´s in a name? Grande Harvey Pekar (e muitos outros autores que trataram sobre o tema)] tenho 22 anos e curso jornalismo após haver abandonado publicidade no 4º semestre e em 2009 pretendo (na verdade espero) estar cursando filosofia. Sou apaixonado por livros, quadrinhos, música e cinema. Gosto de cheiro de livros (novos e velhos), de gasolina, tinta, esmalte, removedor de tinta e vários químicos perigosos. Gosto de paçoca e de conversas produtivas. Gosto que discordem de mim e de qualquer coisa. Gosto de discordar mesmo quando concordo (faço isso até comigo pra provar a consistência da opinião). Gosto de esquentar as meias em dias frios e depois colocar no pé. HMMM. Gosto de descobrir uma idéia, filme ou música nova e/ou inovadora. Gosto de ficar pensando no filme depois de sair do cinema. Gosto de ver as luzes da cidade de um lugar bem alto e escuro. Não gosto de sol na cara enquanto dirijo (principalmente). Não gosto de livros de auto-ajuda, de fazer compras e nem de cortar cebola. Odeio: quando cortam fila, dão luz na estrada e eu estou no limite da velocidade, propaganda de perfume e o fato do(s) Los Hermanos ter(em) “dado um tempo”, e principalmente por terem feito isso sem fazer um show em Campinas.

Rodrigo C. Levy

Deixo uma dica final para os loucos que me acompanharam nesta jornada improdutiva: ouçam - Al Di Meola, Paco de Lucia, John Mclaughlin - The guitar trio - apresentação (que me acompanhou na produção deste texto) em que os três violonistas tiram lágrimas até do Chuck Norris (perdão pela blasfêmia). – Para não fazer apologia à pirataria, garanto que o álbum NÃO está disponível na comunidade do espanhol Paco de Lucia no orkut.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Mais uma vez: não é a Haydée.

Na ‘Warner’ – e essa vai para os viciados em televisão – ‘as segundas são das loiras’. No ‘Soma’ ficou decidido que serão minhas. Como diria o Pica-Pau: ‘E lá vamos nós!’

Nos meus áureos tempos de faculdade tive um professor que disse que nós, alunos de primeiro ano, não poderíamos dar opinião NEM sobre o milk shake do McDonald's. Eu não poderia mesmo porque não o consumo. Mas o motivo não era nerdice–anti–capitalismo/imperialismo–norte-americano que poucos têm. Era a idade – 16, 17 anos – e as respectivas experiências vividas.

Não me atrevo a desrespeitá-lo, mas, pouco mais de um ano depois, utilizarei o espaço de hoje para falar sobre um belo livro que li. E isso prova o quanto eu presto atenção no que os outros dizem...

‘A menina que roubava livros’, de Markus Zusak está entre os mais vendidos hoje. Na lista da Revista Época do último domingo, ocupa a primeira posição. Mas não é por isso que li ou recomendo a leitura. Na verdade, recomendo porque li, mas não li porque vi, e sim porque ‘dei uma pesquisada’. Então, aqui está, a contragosto do professor, a minha opinião:

A narradora é a morte e o primeiro fato que ela nos apresenta é que um dia vamos morrer. Essa é a única certeza que temos sobre a vida durante ela toda, mas ninguém gosta de lembrar. Em ‘A menina que roubava livros’, porém, o terror da morte desaparece em meio a emocionante história de Liesel Meminger, uma menina que, com seus 9 anos de idade, conhece o mundo e as injustiças dele, ao perder seu irmão e ser deixada, pela mãe, na casa de Hans e Rosa Hubermann, o grande cenário do livro.

Durante as quase 500 páginas, o ano de 1939 chega rapidamente a 1943 e todo o terror da Segunda Grande Guerra serve como pano de fundo para a bela história de Liesel que, nesse período, escapou da morte 3 vezes e resolveu contar sua história em ‘A menina que roubava livros’, re-contada para nós pela maior testemunha de sua vida nesses 4 anos: a própria morte.

Há como não gostar, claro. Mas o livro de Markus Zusak não é apenas mais um no mercado brasileiro impulsionado pela lista do ‘The New York Times’ ou da Oprah. É uma inovadora narrativa, leve e com particularidades que só lendo serão encontradas. Desde desenhos e letras diferentes em certas partes do livro à momentos desesperadores na vida da protagonista, ‘A menina que roubava livros’ pode ser um grande programa para as férias ou mesmo uma densa leitura.

Tentando fugir do clichê, não vou dizer que vale a pena ler – embora fosse redundante depois de todo o texto – mas, se interessar, você pode dar o primeiro passo aqui.

E, se gostar desse trecho, peça o livro que eu empresto!

*Marina Aranha teve que dizer a um amigo, mais de mil vezes, que o livro não era sobre a ‘Haydée pequenininha’. E essa, de novo, vai pros viciados em televisão.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A caretice na psicodelia musical brasileira (ou vice-versa)

Quem vê o senhor distinto, boa-pinta e de fino trato apresentando um programa de variedades direcionado ao universo feminino na TV Gazeta não imagina quantas águas já rolaram para que ele conseguisse essas rugas de maneira tão natural e serena. As cicatrizes da velhice de Ronnie Von guardam histórias da música brasileira que nunca ninguém jamais contou.

Em 1968, Ronnie Von era muito mais moderno do que os jovens de hoje. Saiu do ambiente familiar de filho-de-pai-nobre e caiu na estrada: foi um dos precursores da música psicodélica brasileira (MPB?) ao lado da turma da Tropicália, de Walter Franco e outros malditos, antes de seguir a linha da Jovem Guarda e do bubblegum-pop. Lançou os Mutantes em seu programa musical na TV, fez experimentações musicais tão inovadoras quanto às de discos que marcaram época (como Pet Sounds, dos Beach Boys, e We’re Only In It For The Money, do Mothers of Invention) e contribuiu para abrir novos caminhos para a música brasileira. Quem diria que Ronaldo Lindenberg von Schilgem Cintra Nogueira, o Pequeno Príncipe, fez rock ‘n roll de verdade?

Ronnie Von - Ronnie Von (1968) Ronnie Von - A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império do Nuncamais Ronnie Von - A Máquina Voadora

A Universal acaba de relançar dois dos discos da “trilogia psicodélica” do cantor, Ronnie Von (1968), e A Máquina Voadora (1970), cometendo um deslize enorme ao não colocar no mercado A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império do Nuncamais, de 1969. No entanto, quem procurar em sebos especializados pode desembolsar algumas boas centenas de reais para adquirir os discos raríssimos. Para os não-afortunados, há sempre a internet.


Puxando os fios da memória
Em 1966, a beatlemania aproximou Os Mutantes do apresentador prodígio (foi ele, inclusive, quem batizou a banda com o nome definitivo). Seu programa, O Pequeno Mundo de Ronnie Von, que fazia referências a ficção científica, contos de fada, ocultismo e outras viagens, concorria com o programa Jovem Guarda, do “Rei” Roberto Carlos. Então com 22 anos, pretendia fazer do programa um palco de experimentações, de inovações musicais. Misturou rock com música barroca, Beatles, pop e música erudita. Queria mostrar que Ronnie Von não era só “Meu Bem”, versão pegajosa de uma música dos Beatles que estourou nas paradas de sucesso e o levou ao estrelato.

Ronnie Von foi além, e criou músicas como “Meu novo cantar”, um maravilhoso poema cantado, a orquestrada “Pare de sonhar com estrelas distantes”, a balada-blues “Viva o chopp escuro”, a pesada e “A Máquina Voadora” e “Anarquia”, um emocionante grito de liberdade:

“Prepare tudo o que é seu / Veja se nada você esqueceu / Pois amanhã vamos pra rua fazer / Fazer uma tremenda anarquia / Pintar as ruas de alegria / Porque quem manda hoje somos nós, mais ninguém / E não ligamos pra quem vai nem quem vem atrapalhar”
Mesmo as versões de músicas de outros compositores, como “Comecei uma brincadeira” (I Started a Joke, dos Bee Gees), “Dindi” (Tom Jobim) e “Atlântida” (do contemporâneo Donovan) possuem originalidade e uma roupagem inteiramente nova.


Mais um capítulo felizmente inacabado
O assunto está tão “na moda” que chega a ser maçante a quantidade de notícias espalhadas por aí anunciando o relançamento dos discos do Ronnie Von. Como sempre, o jornalismo brasileiro se contenta em jogar na cara do leitor um fato isolado e, no máximo, faz uma pequena retrospectiva sobre o personagem. Resultado? O leitor conhece a história de “Ronnie Von, um rockeiro que não deu certo”, ou então, “Um vovô brega que foi louco por uns dias”.

Para destrinchar o passado e contextualizar Ronnie Von e toda a chamada psicodelia brasileira, um grupo da faculdade de jornalismo Cásper Líbero está produzindo um livro-reportagem chamado Um mergulho na geração bendita. No blog que acompanha os bastidores do projeto é possível ler entrevistas com o Ronnie Von, além de dados e outras fontes fundamentais desse período ainda obscuro do nosso país poço de riquezas perdidas a serem (novamente) resgatadas.

Então, prepare tudo que é seu.


* Fábio Bonillo não mais se envergonha de vir às lágrimas escutando Belchior e Guilherme Arantes

segunda-feira, 11 de junho de 2007

“ Lorelai Gilmore without the ‘Gilmore’ is like...‘Gil...less’ ”

Meu post de estréia aqui. E, para começar – com o perdão da redundância –, não pensei diferente. Claro. ‘Gilmore Girls’. Assim, apresento-lhes meu vício antes que qualquer um dos meus colegas o faça. O que provavelmente viria com difamações. Águas passadas.

O que me interessa, nessa semana, é lastimar o adeus de Lorelai e Rory.

Depois de 7 – 5 incríveis e 2 últimos satisfatórios – anos, o seriado com as conversas mais rápidas do oeste, chegou ao fim. E com um grand finale tipicamente ‘gilmoresco’: teve Luke e Lorelai, despedida fofinha pra Rory e uma Stars Hollow incomparável. Tudo isso mesmo depois da saída de Amy-Sherman Palladino, a produtora executiva da série que, por obscuras razões, a deixou nesse último ano.

É bem verdade que no começo dessa sétima e última temporada aconteceram alguns escorregões. As conversas não eram mais as mesmas. Rory era mais ‘Rory’ quando ia, nerdinha, pra escola e lia no refeitório enquanto almoçava. A Lorelai demorou o seriado todo para se decidir amorosamente e virou divorciada.

Aliás, Lorelai: ponto alto da série. As melhores piadas. A melhor personagem, com a melhor atriz, Lauren Graham, creditada como produtora em alguns episódios dessa última temporada. No último, inclusive, Lauren confirmou ter feito algumas modificações no roteiro que, segundo ela, estava muito leve mesmo que apenas para um final de temporada. E se não fosse ela...

Com um texto inteligente, personagens carismáticos, referências culturais ágeis e a criativa Lauren, o time mais prime (eca!) da minha TV a cabo, foi-se (foice?).

Triste estou, mas, se interessa saber, recuperar-me-ei! E se não interessa, é bom saber, porém, que quando começo a fazer trocadilhos ou a falar sobre mim, é hora de parar.

Até!
E sem Gilmore na quinta. ‘Gil...Less’.
Droga.

*Marina Aranha assiste todos os dias às reprises de 'Gilmore Girls' na Warner. Ela não tem mais o que fazer.