terça-feira, 27 de maio de 2008

Sobre o português. E não é piada.

Meu professor não gostou muito desse texto. Disse que está muito poético pra ser um artigo. Sendo assim, não vai entrar no jornalzinho. Discordo, mas não discuto. Aqui – para azar de quem lê – ninguém controla o que escrevo. Então vai lendo aí, mano.

É como tirar o mínimo múltiplo comum entre os oito ‘portugueses’. E o resultado é a unificação da língua portuguesa entre 8 países. Quatro deles com o acordo já certo: Brasil, Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

São tantas novas regrinhas, como o desaparecimento de qualquer acento usado para diferenciar palavras. Em “para” e “pára”, por exemplo, ninguém vai saber quando "parar" e quando "dar para". Ou o que for.

O trema sumiu. Mas isso nem é tão importante, afinal não acredito que alguma vez ele tenha tido apelo entre os que fazem uso do bom e belo português.
Por outro lado, o hífen sempre atrapalhou. Ora no plural de substantivos compostos, ora apenas na questão: aonde ele vai mesmo?
E agora esse mesmo ponto fica ainda mais complicado: o hífen some quando o segundo elemento da palavra começa com “r” ou “s”.
Até aí, mais ou menos tudo bem.
Mas começam as exceções: quando o prefixo é terminado em “r”, o hífen se mantém.
E assim vai..

A idéia de trazer um formato da língua para os oito países visa a universalização e até maior facilidade em constituições internacionais. O português, terceira língua mais falada do mundo, sofreu muita influência dos imigrantes, africanos e principalmente dos povos indígenas, construindo, assim, uma identificação brasileira com a língua.
Mais do que trazer o re-aprendizado do português, a mudança unifica aquilo que caracteriza um povo, que traz a identidade, a história e a cultura de uma nação.

Não importa que, durante o passar dos anos, ‘vosmicê’ tenha chegado ao “você” e que hoje escrever apenas um “vc” resolva a situação.
Porque aí é um povo que se adapta, durante décadas, a uma língua, e não uma língua que se adapta, durante meses, a oito povos.

O resultado de tudo isso: um acerto de contas com letras. A unificação daquilo que distingue. E por isso diversifica.

Aliás, não será apenas um problema para pessoas: o Word já está acostumado em acentuar sozinho e o ‘Clips’ adora dar umas dicas. Vai ter que mudar, Clips!

Português por português, preferia que esse texto fosse aquele em que o Manoel vai assaltar o Joaquim, grita “Pare” e Joaquim responde Ímpare.

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Dói muito pensar que nossa língua pode mudar enquanto eu estiver vivo. Fico muito feliz por não ter vivenciado a mudança de pharmácia para farmácia. Hoje, para nós, tal mudança parece lógica, mas eu tenho minhas dúvidas se nossos parentes acharam plausível assim como nós. A Língua Portuguesa é bela por vários aspectos, principalmente pela diferença entre a rica língua falada nos suburbios e a língua formal literária. Torço fielmente para que não aconteça nenhuma revolução e essa diferença existente dentro da nossa própria língua não entre para a história.

Pronominais - Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Daniel Serrano disse...

achei o texto belíssimo. e que humor! uma pena terem-no podado. E, de fato, não vejo muita razão na mudança; mas não chego a ser CONTRA. Talvez só contra. Acho que se vai é gastar bem mais, imprimindo monte de coisa tudo de novo. De resto, discordo um pouco quando você fala de unificação daquilo que caracteriza a cultura de um povo. Penso que unificar a ortografia é muito pouco para afetar a língua de fato, com todo seu movimento. A fala é que manda. Sinto pena somente é da lingüiça, que, destremada, pobre, vai parecer carne de segunda.

Lívia disse...

haha adorei a do clips.
(desculpa não conseguir fazer algo mais poético, como pede o seu texto. é que falta criatividade desse meu lado).