domingo, 24 de junho de 2007

Dedos exigentes

Você chega em casa puto da vida, se perguntando por que diabos a biblioteca da sua faculdade se parece com o pequeno depósito de livros didáticos que eram as bibliotecas das escolinhas de jardim de infância (Cuca Legal, Elefantinho, Arco-íris, esses nomes lhe são familiares?). Especialização, que nada: procura algo específico na área da comunicação, da literatura ou uma história em quadrinhos? Azar. Dentre as opções escolhidas, levar mais de três livros não pode. A biblioteca municipal? Lá só se guardam bagaços, resquícios do que um dia foram livros. Isso se você não pegar alguma espécie de bactéria já extinta enquanto passa com dedos cuidadosos as páginas prestes a esfarelar daquele Hemingway em que você tanto queria pousar os olhos.

Enquanto isso, dedos congelados na distante Finlândia folheiam os mais de 1200 exemplares de livros de histórias em quadrinhos armazenados na Universidade de Helsinki – mais especificamente na coleção especial reunida pela Sociedade Finlandesa de Quadrinhos.

Como se não bastasse um acervo enorme de literatura, a instituição reserva um espaço considerável para disponibilizar revistas estrangeiras (Bélgica, Suécia, Espanha, Itália, Inglaterra, Polônia e Estados Unidos), quadrinhos independentes finlandeses, livros didáticos que tratam de ilustração e desenho e recortes de jornais sobre quadrinhos da década de 70 – totalizando 80 metros lineares de documentação textual.

A The Finnish Comics Society, fundada em 1971, é uma associação de aproximadamente 800 membros, entre quadrinistas, leitores, colecionadores, entusiastas e pesquisadores de quadrinhos finlandeses. O objetivo do órgão é trazer maior reconhecimento e respeito para as histórias em quadrinhos, popularizando e promovendo uma leitura mais crítica da arte seqüencial. Desde sua criação, a associação estimula a produção de quadrinhos com oferecimento de cursos e entrega de prêmios, principalmente no anual Helsinki Comics Festival, que já teve a participação de monstros como Will Eisner, Enki Bilal, Adrian Tomine, Joe Sacco, Lewis Trondheim e Moebius.

E enquanto isso, no Brasil...




* Fábio Bonillo é brasileiro de nascença e escandinavo por opção, mesmo nunca tendo saído do sudeste tupiniquim

3 comentários:

Anônimo disse...

Faça valer sua paixão por HQ, faça a diferença e lute pela melhoria das bibliotecas nacionais. Okay, mudar todas as bibliotecas nacionais parece um sonho utópico, mas por que não começar montando sua própria biblioteca? É um projeto a longo prazo, (leia-se aqui "longo elevado a mol") porém, tenho a plena certeza de que, quando essa biblioteca particular virar um ponto notório na cidade e na região (lá para 2057), muitos fanáticos como você te agradecerão eternamente pelo feito.

marina aranha disse...

eu não quero ser, assim...puxa saco, sabe? vai parecer que eu não tenho mais o que falar...
mas o seu texto está muito belo!
e tenho certeza que qualquer um concordaria.
assim dá pra ver que não é puxa-saquismo!
(:

Yuri K (A) disse...

Hááá! Não conhecia esta blogosfera! Muito bacana por sinal. Mas... biblioteca de HQ, só se tiver Asterix ou Tintin!